segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dianismo e TPM


Nas nossas listas de discussão, estamos sempre recebendo perguntas de mulheres que sofrem de TPM e gostariam de saber de métodos naturais para tratar dos incômodos e dores relacionadas ao ciclo menstrual. Isso me levou a uma reflexão mais profunda sobre o papel da TPM na nossa sociedade. A Green Woman achou a resposta interessante e recomendou que eu postasse aqui:

Ao longo dos anos e ao longo do meu sacerdócio diânico,  eu desenvolvi a firme convicção de que a TPM existe porque o mundo não está preparado para os ciclos naturais femininos. As mulheres são cobradas a terem o mesmo tipo de comportamento/performance/humor sempre, mas nós todas tendemos, em maior ou menor grau, a termos ritmos internos muito bem definidos, que estão longe de serem lineares.  

Mulheres - e homens! - mudam, todo o ano, todo o mês, toda a semana, toda a hora. Exigir que elas sejam sempre as mesmas é não só cruel como impossível. A TPM, me parece, é exatamente uma revolta do corpo feminino contra uma sociedade que não está sintonizada com os ritmos femininos. O nosso corpo é sábio e a dor, o mau humor e o mal estar, são, muitas vezes, formas de avisar que alguma coisa não vai bem. Aliais, a função evolutiva da dor é justamente informar ao nosso cérebro que alguma coisa está errada.  E, no entanto, por gerações e gerações mulheres foram doutrinadas a acreditarem que a TPM era uma carga/punição completamente vinculada à própria condição feminina, que nada nos resta, em nossa “desgraça e azar de ter nascido mulheres”, do que nos resignar ou tomar remédios paliativos  e  adotar métodos invasivos para continuarmos seguindo os ritmos lineares impostos por uma sociedade doente que não leva em conta as necessidades biológicas e psíquicas de mais de 50% da população.

Mas se levarmos em consideração a premissa de que a TPM é uma revolta dos nossos corpos contra um estilo de vida e uma sociedade que não respeitam nossos ritmos internos, me parece que uma das melhores formas de se lidar com a TPM é justamente produzir menos e sem culpa, nos dando todo o tempo que conseguimos nos dar. De preferência,  interagir com outras pessoas o menos possível, pois muitas de nós sentimos uma necessidade instintiva de nos isolarmos nesses dias.  Por outro lado, é sempre bom aproveitar esse período de maior sensibilidade para levar uma vida espiritual e criativa muito mais intensa. Essa é a hora de nos tornarmos mais introspectivas e de prestar atenção nos nossos sonhos. É hora de pegar o computador e se dedicar à criação, de ler  um livro, de desenhar, de ficar quieta no nosso canto e de fazer rituais para as nossas Deusas, enfim, de cuidar de nosso santuário interior.  

Lembrando que “na medida do possível” aqui é a expressão mágica. Claro que nem sempre dá para fazer isso. Claro que, às vezes, no meio da TPM, o chefe, a família, o banco, o exército e a marinha e a aeronáutica vão demandar nossa atenção. E aí não tem jeito, agente sai do casulo - com um humor terrível - e vai fazer o que é necessário. Mas devemos ter o compromisso de fazer APENAS O NECESSÁRIO. Em dias de TPM, não é o caso de nos martirizarmos porque deixamos de salvar o mundo. Tudo o que pudermos cancelar, postergar, passar a diante, passemos sem culpa. Aí, quando nosso corpo sair da TPM,  agente provavelmente conseguirá se tornar bem mais ativa, retomar o tempo perdido, produzir em triplo, em quádruplo se for necessário. No final das contas, provavelmente produziremos muito mais porque respeitamos nossos corpos. E ainda vamos ter passado por uma experiência de introspecção e reflexão que são essenciais para nós, que somos filhas das Deusas.

E é claro que podemos continuar fazendo o que todas nós já fazemos: tomando ervinhas, meditando, usando cristais, fazendo exercícios, tendo uma alimentação e uma vida saudável. Tudo para o alívio da nossa TPM e a melhoria de nossa existência. Mas lembrando sempre que esses remédios e métodos não eliminam a necessidade de respeitar nosso próprios corpos e nossos próprios ritmos.

Eu sinceramente acho que nós mulheres temos de começar a nos permitir mais. Generalizando, parece que muitos de nossos colegas de trabalho homens não parecem ter 10% do complexo de culpa que nós temos por não sermos funcionárias padrão. Grande parte deles sabe projetar uma imagem excelente, super profissional, pois, de modo geral, são bem mais confiantes que nós e foram criados para serem os donos do mundo. Mas quando agente vai ver a planilha, os resultados concretos, muitas vezes  produzimos muito mais. Com TPM ou sem TPM.  E ainda levou os filhos para a escola, arrumou a casa, telefonou para a amiga, fez o imposto de renda, foi ao supermercado... E no entanto, somos nós que ficamos pedindo pelo amor de Deus para sermos aceitas, para sermos consideradas adequadas, para sobressairmos de alguma forma. Somos nós que lutamos contra os nossos corpos porque "não trabalhamos como um homem".  E ainda ganhamos menos para exercer as mesmas funções, como nos informam as estatísticas nacionais e internacionais.

Claro que tudo isso é uma baita generalização :), mas o que eu estou tentando dizer é, fora fatores físicos mesmo, que podem ser contornados com tratamentos e uma vida mais saudável, eu acredito que TPM muitas vezes é a voz da Deusa nos dizendo para nos respeitarmos e pedindo que nós contribuamos para uma sociedade mais em harmonia com os ciclos naturais femininos. De preferência sem perder o emprego ou matar o(a) parceiro(a), né?  

8 comentários:

  1. adorei o texto!!!
    me fez refletir bastante neste momento que estou passando (cólicas e mal humor...)

    Eu sempre leio nos livros que tenho, que uma mulher deve aprender a respeitar seus ciclos...
    olho nas runas e elas me dizem que preciso aprender a respeitar meus ciclos...

    mas eu simplesmente não sei bem como fazer isso!

    Quer dizer...usando um diário da lua consegui perceber uns padrões...quando minha energia está mais alta...ou mais baixa...e que é bom eu me poupar quando está baixa...etc.

    Mas como você mesma disse...nossos empregos, famílias, namorado (namoraaaaado) exigem nossa atenção...e quando a gente consegue finalmente ficar "no cantinho" bate aquele sono e só quer descansar xD

    queria poder compreender direito meus ciclos...e deixá-los harmonizados...pro meu próprio bem saka? Nunca pensei na minha menstruação como algo ruim (eu esperava por ela ansiosamente), mas tenho tanta cólica =/

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  2. Ah, Gabi, eu achei mesmo que seu texto poderia ajudar as mulheres!

    Sam, tenho uma lista chamada Ciclos Naturais Femininos, onde tentamos achar respostas para essas questões.

    Se quiser se juntar a nós, mande um e-mail para ciclosnaturaisfemininos-subscribe@yahoogrupos.com.br

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  3. A TPM é um assunto que deve ser pautado sempre, tanto quanto sua frequência em nossas vidas!
    TPM remete a sociedade como um todo à tão odiada menstruação! Tenho que, todo o horror à TPM começa no asco que a maioria das pessoas tem do sangue menstrual.
    Algumas mulheres do meu trabalho já disseram coisas como: "Tenho nojo até de tomar banho quando estou menstruada."
    E outra completam: "E o pior, além da merda da menstruação ainda precisamos passar pela TPM."
    O desrespeito pelo próprio ciclo vai além das cobranças sociais de que a mulher precisa passar por cima de suas necessidades para se exaltar no trabalho e ainda cumprir com suas outras responsabilidades, chega ao ponto de, emocionamente e psicologicamente, se anularem e até deplorarem o fato de serem mulheres.
    Ainda não descobriram e acolheram o feminino em si, embora sejam mulheres e lidam com o feminino em seu cotidiano.
    É sábio respeitar os próprios ciclos, como você disse no artigo, reconhecer que não são fraquezas e sim características/particularidades femininas, entender que ao lutar contra si, a mulher se priva da chance de ganhar (respeito, reconhecimento, compreensão...)

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  4. Oi Trêva,

    Realmente, o nojo ao sangue menstrual e tudo que diz respeito à menstruação é outro aspecto da TPM que não foi abordado no meu artigo. Bem lembrado! Eu acho que as duas coisas andam juntas e fazem parte da nossa rejeição contínua ao feminino.

    Abração.

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  5. Seu artigo foi muito oportuno para o que eu e Nut estamos desenvolvendo para o próximo Esbat do projeto Taxilunar, do qual tinha te falado. Começaremos, justamente, falando do sangue menstrual, do valor dele para nossas mães nativas, alguns ritos que eram feitos apenas por mulheres reverenciando o ciclo menstrual e como cada mulher sente os efeitos da lua(suas fases)neste período - cultuaremos Cy.
    Penso que embora seja difícil correr da loucura capitalista que consome nosso tempo, simplesmente se valorizamos nosso ciclo e aceitarmos o sangue de nossa menstruação soframos menos com a TPM.

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  6. Que legal! Boa sorte no Esbat! Depois conta para agente como foi o ritual.

    Beijão.

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  7. Acho estranho que vocês bruxas não conheçam a erva brasileira "agoniada" e a árvore da Deusa Hera: vitex agnus castus.

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    1. Acho estranho você presumir que ninguém aqui conhece essas ervas e outras, mas obrigada por mencioná-las.

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